Nesta febre de converter carros com motores a combustão em carros elétricos, alguns fundamentos sérios foram deixados no limbo e é nossa obrigação torná-los visíveis
A Toyota é a maior montadora do mundo. De acordo com edição americana Wheels, Toyota e Volkswagen disputam o título de maior do mundo, cada uma tomando a coroa da outra conforme o mercado se move. A Volkswagen ostenta 12 marcas contra as quatro da Toyota. Audi, Lamborghini, Porsche, Bugatti e Bentley estão incluídos na família de marcas Volkswagen.
A GM, a maior montadora dos Estados Unidos, tem cerca de metade do tamanho da Toyota. A Toyota é, na verdade, uma grande fabricante de automóveis nos Estados Unidos; em 2016, fabricou cerca de 81% dos carros vendidos nos EUA. A Toyota foi uma das primeiras a introduzir carros híbridos combustão-elétricos no mercado, com o Prius há vinte anos.
Tudo isso para ressaltar que a Toyota entende tanto o mercado automotivo quanto a infraestrutura que o sustenta, provavelmente, melhor do que qualquer outro fabricante do planeta. Não aumentou sua presença por meio de aquisições, como a Volkswagen, e não foi resgatada como a GM. A Toyota cresceu construindo carros confiáveis, com uma abordagem competitiva de mercado, por décadas.
Quando a Toyota dá uma opinião sobre o mercado de automóveis vale a pena ouvir. A Toyota reiterou sua opinião, manifestada há tempos: “O mundo não está pronto para suportar uma frota de automóveis totalmente elétrica”.
O chefe de energia e pesquisa ambiental da Toyota, Robert Wimmer, testemunhou: “Se quisermos fazer um progresso dramático na eletrificação, será necessário superar enormes desafios, incluindo infraestrutura de reabastecimento, disponibilidade de baterias, aceitação do consumidor e acessibilidade.”
As observações de Wimmer ocorreram logo após o anúncio da GM de que eliminará gradualmente todos os motores de combustão interna – ciclo Otto e Diesel – (MCI) até 2035. Outros fabricantes, em todos os cantos do mundo, seguiram o exemplo com anúncios semelhantes.
Tanto a Toyota quanto a Honda até agora não fizeram tais promessas e, aparentemente, se recusam a fazer. A Honda é a maior fabricante de motores do mundo, considerando-se motores para embarcações, motocicleta, cortador de grama e outros motores não destinados propriamente ao setor automotivo. A Honda concorre nesses mercados com o aumento da eletrificação de cortadores de grama, aparadores de ervas daninhas e similares.
Wimmer observou que, embora os fabricantes tenham anunciado metas ambiciosas, apenas 2% dos carros do mundo são elétricos neste momento. Pelo preço, alcance, infraestrutura, acessibilidade e outros motivos, os compradores continuam a escolher o MCI em vez do elétrico, e isso mesmo com os subsídios e incentivos fiscais oferecidos para reduzir os preços dos motores e veículos elétricos.
A escala da mudança ainda não foi introduzida na conversa de forma sistemática. De acordo com o FinancesOnline, existem 289,5 milhões de carros apenas nos EUA. Cerca de 98% deles são movidos por MCI. O RAV4 da Toyota conquistou o primeiro lugar em vendas no mercado dos EUA em 2019, com o CR-V da Honda em segundo. O mais vendido da GM, o Equinox, foi o 4º atrás do Nissan Rogue. Dentre os 15 carros mais vendidos nos EUA, a GM tem apenas um, Toyota e Honda dominam, com vários modelos.
A Toyota alerta que a rede elétrica e a infraestrutura não estão aptas a apoiar a eletrificação da frota de carros particulares. Um estudo do governo dos EUA de 2017 descobriu que seriam necessárias mais de 8.500 estações de recarga, estrategicamente posicionadas, para dar suporte a uma frota de apenas 7 milhões de carros elétricos, ou seja, cerca de seis vezes o número atual de carros elétricos, mas ninguém está falando em apoiar apenas 7 milhões de carros, fala-se em cerca de 300 milhões nos próximos 20 anos, se todos os fabricantes seguirem a GM e pararem de fabricar carros com MCI.
As frequentes quedas de energia nos estados da Califórnia e do Texas – os maiores estados dos EUA por população e por propriedade de carros – expuseram os problemas vividos com a falta de energia, mesmo nos níveis de consumo atuais e com o aumento de produção de energia eólica e solar. Simplesmente geradores a carvão e gás natural não podem e não poderão ser desligados. O vento simplesmente contraria as necessidades – gera muita energia quando tendemos a não precisar dela e gera muito pouco quando precisamos de mais. A capacidade de armazenamento para dar conta disso ainda não existe.
Será necessária muito mais capacidade de geração para alimentar 300 milhões de carros, se formos forçados a dirigir carros elétricos. Cada posto de gasolina que se vê na beira da estrada terá que ser conectado à rede para carregar carros elétricos, e as velocidades de carregamento terão que ser muito maiores. Atualmente o tempo de carregamento é de “apenas 30 minutos”, de acordo com Kelly Blue Book. Esse “carregamento rápido” não pode ser feito com energia doméstica é necessário o uso de corrente contínua e sistemas especializados. Carregar com corrente alternada levará algumas horas. A energia elétrica na maioria dos países, vem de geradores que usam gás natural, petróleo, carvão, energia nuclear, eólica, solar, hidrelétrica ou biomassa, poucos países no mundo tem uma matriz de energia limpa como o Brasil, mas, mesmo em nossas terras, teríamos que dobrar a capacidade de geração de energia elétrica para atender a esta nova demanda, como a capacidade hídrica está esgotada, eólica e solar têm limitações, restarão às usinas térmicas esta missão.
Meia hora é um tempo demasiadamente longo para uma carga de energia, é cerca de 5 a 10 vezes mais do que se gasta para abastecer um veículo atualmente.
Não existe almoço grátis. A eletrificação da frota de automóveis exigirá uma grande reforma da rede elétrica e um enorme aumento na geração de energia. Elon Musk confirmou que precisaremos gerar o dobro de energia em relação ao que se gera atualmente. Apenas lembrando, Elon Musk é o proprietário da Tesla que domina o mercado de carros elétricos.
A Toyota já alertou publicamente isso duas vezes, enquanto suas rivais menores em todo o mundo estão se curvando para conquistar o favor dos que estão no poder ou da mídia. A forma como a Toyota aborda a realidade e seu histórico são evidências de que ela merece ser ouvida.
A Toyota não está dizendo que nada disso não pode ser feito. Está apenas dizendo que, até agora, a conversa não é nem de longe séria o suficiente para fazer as coisas.
PODEMOS IGNORAR A REALIDADE, MAS NÃO PODE IGNORARAR AS CONSEQUÊNCIAS DE IGNORAR A REALIDADE